A fome das flores urbanas
Outro dia me peguei pensando na vida e em suas atribuições. Sempre achei que um dia con-
heceria o meu jardim, assim por dizer, as pessoas que normalmente contemplam a minha
exposição existencial, pois as minhas flores e cada pétala que delas caem sempre me insti-
garam por uma resposta certeira e objetiva, então me dei conta de que esse jardim só era
florido porque eu o regava com o sentimento velado de amor ao próximo e percebi que
somos diferentes sim.
Quem foi que disse o contrário? Por toda vida nos sentimos exaltados ao vermos pessoas nos
admirando como flores perfeitas e perfumadas, e você acredita mesmo que isso é um mero
acaso da tamanha perfeição da natureza.
Primeiro olhei cada flor que naquele es-
petáculo residia, a necessidade em entender
aquela transitividade fulgas me pertencia,
como me pertence nesse momento os segre-
dos do cotidiano.
Será que você pode meu amigo, seguir minha
linha de raciocínio? Quero realmente saber
qual é a essência da flor urbana, das Rosas
Silvas e Margaridas Soares, que transbordam e
derramam em nossa sociedade muitos
Antonios, Geraldos, Rosanas, Amandas e que
depositam créditos importantes do cotidiano,
e vontades inigualáveis quando o assunto é
Ser.
E é exatamente essa a atribuição que rego em meu jardim todos os dias, pois muito me pre-
ocupa a imposição do outro, a necessidade de ser mais que a flor ao lado, mesmo que essa
seja uma rosa branca ou amarela, digo isso porque nesse caso ser uma gérbera vermelha ou
uma erva daninha não se torna uma simples escolha, mas é claro que você entende que agora
não é mais questão de escolha, mas sim de existência e autoafirmação.
Deixo de ser óbvio e passo a ser inútil, um objeto andante, ao qual as pessoas me olham com
voracidade e sentem a minha perfeita formosura efêmera.
Você pode até achar que sou um louco, mas às vezes regamos jardins tediosos, e sinto - sinta
você comigo leitor – que toda experiência, toda inteligência deve sim juntar-se com a inutili-
dade e de forma esporádica, dar licença ao Dorian Gray internalizado em cada flor.
E digo mais, digo sim que algumas vezes na vida tive momentos de absoluta clareza, nesses
momentos por alguns breves segundos o silêncio abafou o barulho e eu pude sentir...em vez
de pensar.
E tudo pareceu tão claro e o mundo ficou tão revigorante...é como se surgisse uma nova
ordem! Desculpa, mas não posso fazer com que tais momentos perdurem, eu me agarro a
eles, mas como tudo eles se dissipam... eu vivi desses momentos e me dei conta de que tudo
está exatamente como deveria estar.
Há quem diga o contrário, porém aos loucos intimido mais uma vez a minha existência. Não,
não quero aplausos, nem dó e nem piedade, pois minha vida não é uma encenação... é por
assim dizer momentaneamente...e o que é que eu faço?
Sem motivos aparentes aos transeuntes, meus olhos úmidos somente reconhecem essa flor
aguda e angustiada pelo silêncio que me rasga aos poucos e, como Clarice prefiro a
mediocridade, pois milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um
pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz, e preferem a mediocridade.
Publicado por: Professor Marcelo Cardoso Pardo em 14/03/2014
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